Puerto Madero, na Argentina, remete ao sonho do Cais Mauá

Favorecida pelo câmbio, Buenos Aires atrai turistas em busca de boa gastronomia e opções de lazer

Roberto Brenol Andrade

LEANDRO BRIXIUS/ESPECIAL/JC

Área portuária da capital da Argentina concentra bares, cinemas e residenciais valorizados.
Área portuária da capital da Argentina concentra bares, cinemas e residenciais valorizados.

Os portenhos têm orgulho da sua Buenos Aires querida e, mais ainda, de Puerto Madero. O antigo cais, no Riachuelo, tem a Puente de la Mujer, muita iluminação, cinemas, a Universidade Católica – isso mesmo, uma universidade nos antigos armazéns construídos pelos ingleses. E milhares de turistas visitam o local, antes uma área degradada, abandonada e perigosa. Pois hoje não há turista ou argentino que deixe de visitar Puerto Madero e sair de lá encantado. Até mesmo a lenda urbana dos preços altíssimos está acabando. Afinal, em um sábado à noite, no procurado restaurante Siga la Vaca, se janta à vontade e repetindo o quanto quiser carnes assadas e saladas, incluindo couvert, cerveja, vinho, refrigerante e sobremesa por 95 pesos por pessoa, cerca de R$ 50,00. Crianças pagam a metade. Em noites de tempo bom e temperatura amena, centenas de pessoas passeiam pelo cais. Casais, crianças, jovens e idosos que ocupavam os restaurantes e os cinemas, todos em 3D. Aliás, cinema de rua continua na moda em Buenos Aires. Meia-noite em Puerto Madero é muito lindo! Uma delícia para caminhar, namorar, tirar fotos e comer… E a meia-noite no Cais Mauá? Há 15 anos queremos saber…

Andando calmamente entre enormes e antigos guindastes iluminados, vendo o piso do passeio largo, trabalhado, e, ao fundo, do outro lado do Riachuelo, prédios residenciais de até 30 andares com apartamentos que valem US$ 1,5 milhão, onde, há 10 anos, nada existia, salvo solidão e sujeira, logo nos vem à mente a óbvia lembrança: e o Cais Mauá? Quando sairá do debate inócuo e do bacharelismo? Por que somos tão parados, tão arraigados a dificuldades e não a soluções? Alguns dizem, aliás, que se criam problemas para vender facilidades.

Durante o dia, na famosa “calle” Florida, muitas palavras em português e todos comprando as novidades. A rigor, de novo, pouco, e quase tudo, como aqui, made in China. Tanto consumo faz os guias turísticos pedirem aos brasileiros que não apenas comprem e visitem museus e locais interessantes, La Ricoleta – o bairro mais luxuoso, onde a mansão da embaixada do Brasil é atração pela suntuosidade -, o Caminito, o bairro que inspirou um tango na Bombonera, a Galeria Pacifico e Puerto Madero. E ir e vir de táxi é barato.

Corrientes, Florida, San Martín, Santa Fe, Esmeralda, La Valle e a Suipacha são ruas ou avenidas com grande movimento. Além dos bairros Palermo Soho e Palermo Viejo, uma região de restaurantes charmosos e lojas pequenas. Quanto à moda portenha, salvo os belos e baratos casacões, com a lã boa e barata, o resto está padronizado. Ou seja, não há uma moda específica, e moças, jovens senhoras e mulheres além dos 60 anos usam o mesmo, o que arrepiaria Coco Chanel. Mas, o que é da moda não incomoda, se é que isso é moda…

Ação de punguistas exige atenção dos visitantes

Até poucos anos, os argentinos – e os portenhos em particular – eram indiferentes ou até avessos aos brasileiros. Sua tradicional formação cultural superior, advinda das épocas econômico-financeiras áureas da carne e da lã, acabou. Lentamente, o país foi perdendo espaço, pouco se industrializou, houve a fracassada Guerra das Malvinas e o Brasil tomou conta da América do Sul, com o maior peso político, social e econômico. Temos graves problemas, alguns até piores que os deles, em termos de desigualdade e bolsões de miséria. Mas estamos superando e avançando. Hoje somos bem tratados e na nota fiscal, que usa o Imposto sobre o Valor Agregado (IVA), está impresso o valor das despesas nos restaurantes de Puerto Madero em pesos e o equivalente em dólares, reais e euros, pela ordem, uma comodidade. A vida noturna é intensa e fazer refeições nas ruas é a tradição, com dezenas de confeitarias e restaurantes. Porém, amizades, amizades, punguistas à parte: policiais alertam que os turistas não devem se distrair em ruas, lojas e restaurante. Nesses locais, homens e mulheres bem vestidos surrupiam carteiras, levam notebooks e quase metade das vítimas brasileiras sequer dá parte. 

Tango é a marca musical argentina

Caminito é o único bairro de Buenos Aires – a exemplo do Alto da Bronze, em Porto Alegre – que teve uma música – um tango – feita em sua homenagem. Ali se amontoaram imigrantes pobres, italianos e outros. Da mistura da capoeira dos negros africanos, da pintura carnavalesca das casas com restos de tinta e da falta de opções surgiu o tango. No início, dançado por homens apenas. Depois entraram as prostitutas para fazerem o par. Era demais para um país quase aristocrático. As elites reclamaram e o tango foi proibido na Argentina. Mas como, se na Europa a música e seus passos envolventes eram um sucesso? O decreto caiu, os ricos portenhos engoliram a dança e o imortal Carlos Gardel se encarregou de expandir, em nível mundial, o tango, inclusive o folclórico Corrientes, 348, número que jamais existiu, assinalado por uma placa.

Cristina Kirchner busca recuperar força econômica

A presidente argentina Cristina Kirchner dizia que queria a reeleição. Mas, agora, está estressada e desistindo. Seja quem for o próximo mandatário, a Argentina prossegue com determinação em busca dos tempos áureos. E briga com o Brasil, por causa das barreiras alfandegárias, mais lá do que aqui, aliás.

Puerto Madero, a Puente de la Mujer, as amplas avenidas e o modernizado aeroporto internacional de Ezeiza são exemplos de esforço na reconquista. Bem que esse esforço faz falta a Porto Alegre e ao Brasil, quando a Copa do Mundo de 2014 está quase sendo jogada e as Olimpíadas de 2016 estão a um pequeno salto em distância. Mas grande para nós.

Fonte: http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=63477&fonte=news

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